GUINÉ-BISSAU🇬🇼: Bissau, Cidade Apertada

É calorosa e sempre em movimentos próprios. Com as pessoas a andarem de um lado para o outro, feitas bolas de ténis, em cima umas das outras e também correndo para resolução das suas mistidas (afazeres, compromissos…). Carros praticamente empilhados uns nos outros, engarrafamentos constantes na avenida principal do país e da cidade, o som das buzinas frequentemente nos ouvidos de quem anda pela Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria e por outras estradas que interligam os bairros.

Estas constituem as primeiras características da cidade de Bissau, cujo nome é originário de Intchassu, N’nssassu e Bôssassum, que significa “bravo como a onça” (in: Wikipedia) na língua pepel. É o maior centro urbano do país e daí se tornar definitivamente como capital da Guiné-Bissau desde princípios do século XX, depois de Cachéu e Bolama, antigas capitais da Guiné( portuguesa.

Atualmente, e aos meus olhos, com uma visão mais crítica, ponderada e com certa maturidade a comparar com o período da minha adolescência, considero a cidade de Bissau não só apertada por imensas razões, algumas supracitadas, como a falta de infra-estruturas dignas que possam permitir uma boa convivência entre os seres vivos, lixos no meio das pessoas, transportes urbanos (táxis e toca-tocas) em degradação e sem políticas de manutenção e regras que pautam pelo conforto e segurança para as pessoas que usufruem deles, entre outros cenários. Mas também considero Bissau como a cidade do avesso, ou seja, tudo acontece ao contrário e de uma forma inimaginável.

É, sem sombra de dúvidas, uma cidade onde, no que diz respeito a companheirismo, acontece imensamente entre as pessoas. Da mesma forma acontece ao contrário, ou seja, a falta de civismo, denota-se tanto entre os piões como entre os próprios motoristas, pois, nos discursos diários nota-se raiva impingida nas bocas que mandam uns aos outros.

Tudo acontece do avesso porque tanto se pode ver as pessoas a se desculparem de atitudes menos positivas como também se pode ver pessoas a discutirem por uma situação muito banal e que não merece tempo de antena.
É também um uma cidade onde não dá para perceber se está em mudança para positiva ou está estagnada, tanto ao nível das mentalidades dos seus habitantes como também de instituições políticas e privadas do país. Pois, até se pode ouvir na boca do povo uma frase comum e repetitiva “Bissau bu ta bai nam té ma si bu riba bu ta odjal di memu manera ku bu dissal”. Ou seja, podes viajar durante muitos anos, mas encontrarás Bissau da mesma maneira que a deixaste.

Isso se pode refletir não só na falta de civismo e atitudes positivas entre as pessoas incluindo os motoristas que andam constantemente numa correria para ver quem ganha ou chega primeiro, para ter mais passageiros, como também na falta de ações por parte dos políticos no sentido de se notar alguma transformação da cidade que é composta por mais de uma dúzia de bairros sem boas condições de habitação e de acesso que facilite uma boa passagem de piões ou carros.

Assim continua a cidade das cores e almas vivas, sem projeções que valham mudanças significativas de mentalidades e de infraestruturas.

Mamadu Alimo Djaló: Cozinheiro, Sociólogo e Poeta. Idealizador do Projeto MUNTU – CONTRARIAR O MACHISMO

GUINÉ-BISSAU🇬🇼: As 3 Palmadas

Sair de ti, Guiné-Bissau, com as lágrimas de saudade por causa das pessoas que ficaram, coisas por fazer, e de medo, sobre o que não se sabe, o que não se conhece. Mas com imensa vontade de crescer, de alargar os horizontes, leva e levou muitas pessoas nascidas guineenses a procurarem outros destinos. Imensas pessoas sem vontade de retorno à terra que as viu nascer. Outras, com vontade mas sem recursos.

Há inúmeros casos de abandono da terra natal, mas que vale em dois sentidos: pessoas guineenses que já “não querem saber da Guiné-Bissau” e a Guiné-Bissau não querer saber dos seus “filhos”.

Prefiro optar por descrever a segunda opção, de que a Guiné-Bissau despreza os seus. Pois, independentemente dos governantes, que é a causa maior do abandono que as pessoas guineenses nutrem, o país continua a não olhar para si próprio. Seguem-se vários governos e o país mantém-se no mesmo sítios, sem grandes mudanças muito menos transformações.

Chega-se ao único aeroporto do país (Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira), sente-se na pele três coisas imediatas: o calor, longa fila de espera e pessoas de Estado a pedir “esmola”.

No que toca ao calor, pouco ou nada se faz e/ou se pode fazer. As alterações climáticas têm revelado um elevado índice de subida de temperaturas, provocadas pela exploração desmedida dos recursos naturais do planeta levadas a cabo pelas grandes indústrias internacionais, residentes, sobretudo, no Norte Global, e o Sul Global acaba por sofrer grande parte dessas consequências, com secas severas, inundações e aumento dos níveis do mar e ausência de chuva.

A Guiné-Bissau, sendo um país localizado no Sul de Sahara, com recusos naturais invejáveis, infelizmente, sofre imensamente com este fenómeno. Pois, os poucos recursos de proteção da biodiversidade que o país possui estão cada vez mais ameaçados, fruto de uma governação inconsiste e sem compromissos sérios no que diz respeito a preservação do país, a vários níveis.

Em relação à longa fila de espera que se pode notar no aeroporto, é reveladora de uma falta de organização não só no aeroporto, como também na própria estrutura do país. É extremamente triste deparar com imenso calor ao aterrar e ao mesmo tempo ficar estagnado numa fila a mais de uma hora depois da hora de chegada. Pois, sendo um país pequeno, seria mais fácil manter todas as estruturas bem organizadas e engajadas na satisfação da necessidade das pessoas guineenses ou visitantes.

Outro aspeto lamentável que se pode notar a saída do aeroporto de Bissau, é passar pelos seguranças que pedem “esmola”. Pois, para além de as pessoas trabalhodoras nas instituições públicas (Estado) arranjarem imensas desculpas para abrir malas dos passageiros sem necessidade para tal, ainda procuram endossar as suas vozes para conseguir algum dinheiro extra a conta dos viajantes, que por sua vez, chegam cansados, ensopados de suor e extremamente stressados de tanto esperar na fila.

Contudo, enquanto o país, através dos seus governantes, não voltar os seus olhos para os seus filhos e para as suas necessidades, de todos os géneros, continuará a ser extremamente explorado, com imensa riqueza natural e humana mas sem frutos que valham a proteção do ambiente, uma estrutura mais organizada a começar do aeroporto até ao porto de Bissau, e também pessoas com vínculos ao Estado mais responsável e dignificadas pelo trabalho que fazem, sem alimentarem, cada vez mais, o espírito pedinte que o próprio país protagoniza.

Mamadu Alimo Djaló: Cozinheiro, Sociólogo e Poeta. Idealizador do Projeto MUNTU – CONTRARIAR O MACHISMO.