GUINÉ-BISSAU🇬🇼: As 3 Palmadas

Sair de ti, Guiné-Bissau, com as lágrimas de saudade por causa das pessoas que ficaram, coisas por fazer, e de medo, sobre o que não se sabe, o que não se conhece. Mas com imensa vontade de crescer, de alargar os horizontes, leva e levou muitas pessoas nascidas guineenses a procurarem outros destinos. Imensas pessoas sem vontade de retorno à terra que as viu nascer. Outras, com vontade mas sem recursos.

Há inúmeros casos de abandono da terra natal, mas que vale em dois sentidos: pessoas guineenses que já “não querem saber da Guiné-Bissau” e a Guiné-Bissau não querer saber dos seus “filhos”.

Prefiro optar por descrever a segunda opção, de que a Guiné-Bissau despreza os seus. Pois, independentemente dos governantes, que é a causa maior do abandono que as pessoas guineenses nutrem, o país continua a não olhar para si próprio. Seguem-se vários governos e o país mantém-se no mesmo sítios, sem grandes mudanças muito menos transformações.

Chega-se ao único aeroporto do país (Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira), sente-se na pele três coisas imediatas: o calor, longa fila de espera e pessoas de Estado a pedir “esmola”.

No que toca ao calor, pouco ou nada se faz e/ou se pode fazer. As alterações climáticas têm revelado um elevado índice de subida de temperaturas, provocadas pela exploração desmedida dos recursos naturais do planeta levadas a cabo pelas grandes indústrias internacionais, residentes, sobretudo, no Norte Global, e o Sul Global acaba por sofrer grande parte dessas consequências, com secas severas, inundações e aumento dos níveis do mar e ausência de chuva.

A Guiné-Bissau, sendo um país localizado no Sul de Sahara, com recusos naturais invejáveis, infelizmente, sofre imensamente com este fenómeno. Pois, os poucos recursos de proteção da biodiversidade que o país possui estão cada vez mais ameaçados, fruto de uma governação inconsiste e sem compromissos sérios no que diz respeito a preservação do país, a vários níveis.

Em relação à longa fila de espera que se pode notar no aeroporto, é reveladora de uma falta de organização não só no aeroporto, como também na própria estrutura do país. É extremamente triste deparar com imenso calor ao aterrar e ao mesmo tempo ficar estagnado numa fila a mais de uma hora depois da hora de chegada. Pois, sendo um país pequeno, seria mais fácil manter todas as estruturas bem organizadas e engajadas na satisfação da necessidade das pessoas guineenses ou visitantes.

Outro aspeto lamentável que se pode notar a saída do aeroporto de Bissau, é passar pelos seguranças que pedem “esmola”. Pois, para além de as pessoas trabalhodoras nas instituições públicas (Estado) arranjarem imensas desculpas para abrir malas dos passageiros sem necessidade para tal, ainda procuram endossar as suas vozes para conseguir algum dinheiro extra a conta dos viajantes, que por sua vez, chegam cansados, ensopados de suor e extremamente stressados de tanto esperar na fila.

Contudo, enquanto o país, através dos seus governantes, não voltar os seus olhos para os seus filhos e para as suas necessidades, de todos os géneros, continuará a ser extremamente explorado, com imensa riqueza natural e humana mas sem frutos que valham a proteção do ambiente, uma estrutura mais organizada a começar do aeroporto até ao porto de Bissau, e também pessoas com vínculos ao Estado mais responsável e dignificadas pelo trabalho que fazem, sem alimentarem, cada vez mais, o espírito pedinte que o próprio país protagoniza.

Mamadu Alimo Djaló: Cozinheiro, Sociólogo e Poeta. Idealizador do Projeto MUNTU – CONTRARIAR O MACHISMO.

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